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parte II: Diferentes linhas coreográficas.

A grande obra fora do estilo clássico

La table verte

Bailado em atos

Estréia em Paris, Teatro des Champs-Elysées em (03 de Julho de 1932 )

Libreto de

Música de Fritz Cohen

Figurinos de Hein Heckroth

Coreografia de Kurt Joss


Considerações sobre o amor, o poder e a morte.

Esta obra, que está fora dos moldes tradicionais do ballet russo, despertou grande interesse e foi aplaudida por todo mundo, com exceção dos países fascistas. A escrita foi desenvolvida entre duas guerras, períodos ou conflitos são ampliados pela Alemanha nazista liderado por Adolf Hitler. Inspirado por uma dança medieval de morte, fortemente influenciada pelo clima pós-guerra, ballet continua a ser famoso por seu envolvimento político.

La Table Verte é uma violenta acusação ao fracasso da Liga das Nações. Ao subir o pano vê se uma conferência internacional e dez personagens com mascaras, carecas e barbudos discutem em torno de uma mesa verde (que simboliza a esperança) e terminam disparando tiros. A guerra é declara! As cenas seguintes passam-se no mundo exterior; diante dos olhos da morte os jovens em uniformes despedem-se de suas famílias. Em seguida, visões de batalha, devastação e êxodo. Depois o retorno, os sobreviventes são apresentados contra um fundo de cortinas pretas. Os diplomatas tornam -se a se reunir em volta da mesa verde e outros tiros são dados a esmo, como sinal da retomada das conversações.

Esse ballet, fortemente satírico e de intenção pacifista, deve parte do seu sucesso a um assunto que não poderia deixar ninguém indiferente. Além disso, é uma obra-prima de coreografia expressionista.

Kurt Joss denunciou os horrores da guerra através dos olhos de vários personagens (homens, antigos soldados, políticos desiludidos e idealistas jovens recrutas) na obrigação da morte. Ele denuncia o desvio de poder e dinheiro, premonitória da ascensão do nazismo. Porém, Kurt disse abertamente que essa não é a intenção do seu trabalho:

"Acredito que a linguagem do ballet seja tão expressiva quanto a palavra. Só que não utiliza conceitos claros, expressando o que pretende por meio de outros recursos.
A linguagem do ballet nos permite expressar muita coisa, devo porém confessar que os temas sociais que atribuíram ao meu trabalho não me interessam nada.” - Kurt Joss

Sua obra mais importante, “A Mesa Verde” (tradução para La Table Verte), ganhou o primeiro prêmio no concurso coreográfico internacional em Paris em 1932.

Kurt é também o criador do ballet “Metropole” que entrou para a história como o primeiro ballet sócio-critico.

“Não creio que o engajamento político, ou a influência política sejam tarefas inerentes a arte. Na minha opinião a arte nunca exerceu influencia política, se bem que possam ter havido as vezes coincidências.“ - Kurt Joss

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O ballet que marcou seu tempo retratando as questões de guerra.

Le Jeune homme et la mort

Bailado em um ato

Estréia em Paris, no Theátre dês Champs-Elisées

Libreto de Jean Cocteau

Música de J.S. Bach

Cenários de Wakhevitch

Coreografia de Roland Petit

Nota: Se você ainda não ouviu falar, mas se familiarizou com as imagens, deve ser porque Baryshnikov tornou sua performance mundialmente famosa no filme White Nights.


Um jovem esta apaixonado por uma moça que não corresponde a seu afeto. Na cena seguinte a Morte aparece, retira sua máscara e a coloca no jovem. Fica, então claro que ela era a moça que o repeliu. A música com a finalidade de aumentar ainda mais o suspense e ressaltar o contraste dos movimentos coreográficos, foi a Passacaglia em Dó menor, que a primeira vista parece chocar-se com o espetáculo.

Le Jeune homme et la mort foi ensaiado com música de jazz e os bailarinos só ouviram Bach na véspera da estréia, o que reforça a intenção de seus criadores. O cenário muda em cena aberta e complementa muito bem essa obra-prima que marcou uma época.

Baryshnikov sobre sua preparação com Roland Petit: “ Ele foi capaz de recriar o período para mim apenas ao falar. A neurose pós-guerra, os nervos expostos, a “agonia da arte”, a idéia de viver em “ um mundo privado de fantasia”.

Este é considerado um ballet popular apesar de ser uma peça de época, as questões levantadas são atemporais. Se talvez é um clichê, também tem a força de um clichê.

O conflito simbólico em Jeune Homme é o conflito entre o amor e a morte; Como há grande beleza em ambos. A morte representa uma libertação para o jovem, a libertação de uma dor enorme, a rejeição e a escura solidão: o amor é algo que aprisiona o espirito, e mesmo que o libere. É a morte que alcança a libertação final.

Embora seja um ballet muito satisfatório para quem o dança, tecnicamente é difícil e cansativo. Exige grande virtuosismo; contém muitas combinações, saltos difíceis e giros. Difícil também para a respiração, o bailarino deve percorrer todo o palco, todo o mobiliário, em toda sala e em todo teto praticamente. Além disso os passos não são definidos na batida, mas são organizados em grupos que, em seguida, devem caber dentro de uma determinada seqüência de tempo. Este é um desafio, porque uma certa quantidade de improvisação torna-se parte integrante da coreografia.

A idéia da peça encarna dor e solidão, o contraste tenso entre alívio e a visão da bela mulher que tanto representa a alegria e leva o personagem central a um ponto de suicídio. E todos os apelos, até o momento final em que as paredes sobem e a morte se transforma em uma coisa tenaz, uma força profundamente emocionante e positiva que leva o artista a um mundo puro.


Erotismo na dança

Carmen

Bailado em cinco atos

Estréia no Prince’s Théatre de Londres (21 de fevereiro de 1949)

Libreto inspirado por Proosper Merímée, e pela ópera Carmen de Bizet

Coreografia de Roland Petit


Carmen exige uma interpretação sensível e uma perfeita caracterização dos personagens, o que raramente é conseguido em outros bailados.

Contou com a inspirada colaboração do pintor Antoni Clavé. Seus cenários maravilhosos provocaram aplausos logo na abertura da cortina. O ballet foi tratado com realismo e o tema fala do amor que o ciúme transforma em ódio. Roland Petit conseguiu perfeita transposição coreográfica através de um estilo homogêneo. Ligou o realismo ao classicismo da dança, humor e uma forte dose de erotismo, para a época em que foi encenado. O apaixonado pas de deux de Carmen apesar de atingir o grau excepcional da sensualidade, faz parte da progressão dramática do ballet e é pura coreografia.

Roland Petit encontrou a forma certa para dar colorido a todos os personagens desse espetáculo, que passou a figurar entre as obras-primas do ballet moderno. E também alcançou a fama internacional. No ensaio geral de Carmen, o coreógrafo decide cortar bem curto os cabelo de Renee Jeanmaire. Nasceu a partir disso a estrela Zizi Jeanmaire. Suas pernas, sua silhueta, e o cabelo grudado, a tornaram rapidamente uma lenda viva.

Mesmo com o excesso de apresentações ano após ano, é uma obra que não perdeu em nada a sua força e originalidade. Coreograficamente Carmem é um ballet muito exigente principalmente para a personagem principal, o trabalho de pernas e pés requer muita precisão, há muitos acentos “dentro e fora”, passos de deslizamento onde a bailarina parece “lamber” o palco com os pés.

“ Passo a passo, peça por peça. É assim que se encarna um personagem. Como o ator aprende seu texto, você tem que aprender a coreografia, respeitar sua direção, então estará pronto para se jogar no personagem.” - Zizi Jeanmaire.

Petit conseguiu traduzir toda a brutalidade de Don José, e o amor e estratégia sexual de Carmen. Os humores dos personagens onde os trabalhos de pés se tornam complexos, afiados e as pontas parecem roscas parafusando o chão. Pisoteio e impaciência. Variações que desenham o retrato de uma mulher de gestos duros, um ballet estilizado onde tudo é tensão e relaxamento.


Shakespeare no ballet

Romeu e Julieta

Estreia em 1940, com Galina Ulanova no papel de Julieta e Konstantin Sergueyev como Romeu.

Bailado em um prólogo e 3 atos

Libreto Inspirado na famosa tragédia de Verona

Música de Prokofiev

Coreografia de Lavrosvsky



O impacto da primeira versão só foi atingido novamente 14 anos mais tarde, em Londres, no espetáculo de Kenneth MacMillan.

A obra de Shakespeare serviu como base para obras de compositores de expressão de Prokofiev, Tchaikovsky, Berlioz. Coreografos como Lavrovsky, Lifar, Skibine. Ashton, Cranko, Tudor, MacMillan se inspiraram na história dos dois amantes perseguidos. Cada um a seu modo obteve grande sucesso. Diferenças significativas na interpretação do tema original não ofuscaram o brilho dos bailados. Todos os grandes coreógrafos têm a sua versão de Romeu e Julieta.

O plano de Prokofiev para Romeu e Julieta, na época em que terminou a contagem (08 de setembro de 1935) antes da estréia do ballet, era de que o final deveria ser feliz com Julieta ressuscitando e saindo de seu túmulo e um jubiloso pas de deux final. A idéia foi abandonada após algumas críticas ao compositor. Ele disse: “ Eu tenho tomado um cuidado especial em alcançar a simplicidade que, espero, chegue até os corações de todos os ouvintes. Se as pessoas não encontrarem na melodia nenhuma emoção, serei muito sensível; Eu sinto que vão, mais cedo ou mais tarde.”

Para o ballet Russo a versão de Lavrovsky é sagrada. Ela foi criada para Galina e Konstantin Sergeyev, e foi consagrada por suas interpretações. Esta versão é muito bem construída, limpa, técnicamente disciplinada, e por isso um pouco restrita, nesse caso o papel de Romeu, por exemplo, é atribuído com mais facilidade aos bailarinos do Kirov, puramente clássicos. Adaptações como de Kenneth MacMillan permite uma exploração mais livre.

Este ballet recria cenas importantes definindo uma atmosfera de emoções que o espectador facilmente relaciona com o drama conhecido. A metáfora central são os principais pas de deux - a maneira como os dois jovens se unem e se separam. É importante destacarmos o conhecido “pas de deux do balcão”, não impossível tecnicamente, mas muito vertiginoso para os bailarinos onde se torna difícil controlar tanto no nível dramático e sexual, como na pura dança. No entanto, considerado menos difícil que a cena no quarto, em que a paixão de um jovem casal brota, e seu amor físico e intelectual tem um alcance extraordinário.

As caracterizações são corajosamente concebidas, e oferecem enormes oportunidades de crescimentos artístico e dramático. Muitas transições sensíveis são construídas nos esquemas dramáticos, e há vários desenvolvimentos interessantes dentro dos próprios personagens.

Muitos bailarinos descrevem como uma gratificante experiência. Coreograficamente criativo e expressivo, é muito importante que os passos sejam executados com grande precisão e simplicidade, e com máxima limpeza possível. Grande parte da coreografia extremamente “fechada” cheia de pequenos passos precisos, e posições bastante expostas, por ser muito longo torna-se cansativo principalmente por ser ativo dramaticamente todo o tempo.


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O grande clássico do estilo lírico-romântico

O Lago dos Cisnes

Bailado em um prólogo e 3 atos

Estréia , no Teatro Bolshoi, em Moscou (20 de fevereiro de 1877)

Música de Tchaikovsky

Cenários de Shaginki, Valts e Groppius

Coreografia de Julius Resinger (no Teatro Maryinsky, de São Petersburgo em 15 de janeiro de 1895 com nova coreografia de Marius Petipa e Lev Ivanov e cenários de Botcharov e Levogh).



A dança e a mímica são a essência do Lago dos Cisnes. A parte mais remontada desta obra é o II ato, por sua estrutura que permite ser transportado separadamente, como ballet blanc.

Do ponto de vista coreográfico, o II ato é admirável, triunfando o adágio, o pas de deux entre Odete e Siegfried - de um lirismo comovente, e as variações de Odete que são as partes mais celebres deste ballet. Depois de Legnani, a criadora do papel de Odete, as maiores interpretes foram: Pavlova, Karsavina, Kchessinska, Preobrajenska, Spessivtzeva e, mais próximo de nós, Markova, Fonteyn, Chauviré, Danilova, Vyroubova, Ulanova, Plissetskaya e Makarova.

É sabido que Tchaikovsky não gostou muito do que viu na estréia. Mas obteve um sucesso moderado entre os espectadores e permaneceu no palco de 1877 a 1883.

É sem dúvida o mais popular de todos os ballets clássicos. É possível ver pelo menos uma grande parte dançado por quase todas as companhias de ballet do mundo. Todos os principais bailarinos querem dançar “O Lago” nem que seja apenas uma vez em suas carreiras, e toda as audiências querem vê-los dançar.

Petipa e Ivanov estão para o bailarino o que Shakespeare é para o ator.

Comparado a outros ballets seus principais rivais em popularidade são: Giselle, A Bela Adormecida e Coppélia. E por que não são tão populares? Bem, se deixarmos de lado as considerações práticas (estes outros ballets não podem ser encurtados em versões de um ato, a parte não corresponde ao espirito da obra completa) encontramos a resposta na história romântica e trágica, e a música que acompanha seu desdobramento. As heroínas destes outros clássicos tem alguma relação com o mundo real - são camponesas ou princesas. Coisas estranhas podem acontecer com elas, mas elas vivem dentro de determinadas convenções. Odete tem uma outra história. Ela é uma princesa da noite, ela é toda mágica, uma criatura da imaginação.

O argumento é básico sobre o encontro e desencontro dos amantes mas o que impede isso de ser bobo é o caracter de Odete. Ela é Rainha dos Cisnes, exceto pelo breve tempo entre a meia-noite e o amanhecer. No mundo do céu e da água ela está em casa, mas no mundo real onde o romance é possível, ela parece estar irremediavelmente perdida. Ela é um tanto frágil, uma criatura cujo medo inicial nos interessa imediatamente. A dignidade, coragem e autoridade que ela possui como Rainha, tornam-se a dignidade da mulher apaixonada. O amor enobrece sua beleza, e mesmo sendo uma fantasia tão irreal, explica seu apelo universal.

O papel do príncipe é muito ativo, é necessário que o bailarino domine um estilo clássico preciso, muito forte. A variação do adagio é muito lírica e tocante, muito musical e expressiva: os passos deste monologo ou conversa com ele mesmo busca transmitir a melancolia de Siegfried.

Baryshnikov sobre ser Siegfried: “Quando eu era um garoto e costumávamos assistir “Lago” cochilávamos e pensávamos “oh, Senhor, por que ainda não acabou?”, então sempre que dançava o papel do príncipe, ocorria-me que eu deveria manter o público acordado e em contato com os bailarinos principalmente durante os pas de deux.”

O amor idealista e admiração do príncipe no segundo ato, bem como sua grande paixão no terceiro, devem ser fortes, mas mantida em equilíbrio. Chamar demais a atenção para si mesmo neste ballet pode entrar em um formato totalmente em desacordo com o sentido do ballet, seja qual for o seu papel.


Um sonho de Natal transformado em ballet

O Quebra Nozes

Bailado em 2 atos

Estréia no Marynsky Theatre em São Petersburgo (17 de Dezembro de 1892)

Música de Tchaikovsky

Cenários de Botcharov

Coreografia de Lev Ivanov



Este é mais um ballet que não obteve sucesso logo em sua estreia. Provavelmente porque exigia uma atenção muito grande do público da época. Só na sua remontagem, 40 anos depois, O Quebra Nozes foi recebido com um enorme sucesso, emsua estreia no mundo ocidental.

Numa festa de Natal, Clara ganha um quebra Nozes de presente que adquire vida para liderar um exército de soldados de pau, numa batalha vitoriosa contra os ratos e assim se transforma em um lindo Príncipe que leva Clara para o reino dos doces.

Esta produção foi planejada por Petipa que adoeceu e passou o trabalho para seu assistente, Ivanov. Provavelmente é o ballet mais encenado no mundo e até hoje sobrevive a coreografia original do pas de deux da Fada Açucarada e do Príncipe.

Várias versões foram feitas, entre elas, a de Ashton, Balanchine, Grigorovich, Cranko, Nureyev, Baryshnikov. Por ser um tema de Natal, esse ballet se tornou uma tradição de fim de ano em todos os grandes centros do mundo.

É um caso raro onde as pessoas costumavam chamar de “Nutcracker Suite”, pois conheciam mais a música que o ballet.

Na versão de Rudolf Nureyev para o Royal Swedish Ballet, Clara é uma garota na pré adolescência e consequentemente seus sonhos são infantis mas com a idealização do amor. Curiosamente nesta versão ela é quem dança o habitual pas de deux da “Fada açucarada” com o Principe como se fosse um sonho, uma visão de si mesma como uma princesa.


Se você chegou até aqui; muito obrigada!

Não tinha como fazer um post menos extenso, já que o intuito principal do blog é manter e divundir as memórias que fazem parte da historia do ballet no mundo.

Deixe seu comentário. Até o próximo post!











Referências: 101 stories of the great ballets by George Blanchine and Francis Mason/ Panorama des Ballets classiques et néo-classiques, Rosita Boisseau (aver la collaboration de René Sirvin)/ ballet,arte,técnica,interpretação, Dalal Achcar/ Baryshnikov at Work/ Magical of Dance by Margot Fonteyn. www.college-Rousseau.fr

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