Este ano é comemorado o bicentenário de Marius Petipa; o gênio criador de muitos ballets que amamos e estão no repertório de grandes companias do mundo todo.
Resolvi começar essa série de posts que chamarei de "Petipa Dreams" e começar sobre o grand pas de Cisne Negro, muito dançado em festivais e quando dentro do ballet completo de "O lago dos Cisnes" nos transporta quase que para outra obra.
O famoso Grand Pas de Deux tem uma história complicada, começando por sua composição. Sua música que foi originalmente composta por Tchaikovsky como um pas de deux para dois casais do primeiro ato. Tornou-se então um grand pas de deux quando Petipa o transferiu para o 2º ato, com Riccardo Drigo revisando extensivamente a música e adicionando um novo final ao Grand Adagio e uma *interpolação na composição de Tchaikovsky para piano como a variação de Odile.
Petipa então a coreografou como Pas de Quatre demi d'action; que foi originalmente dançado por Odile, Siegfried, um cavaleiro adicional e Von Rothbart - o gênio do mal que realizou a maior parte do *mimo.
O Grand Pas de deux ficou amplamente conhecido hoje, como sendo "do Cisne Negro” mas nunca foi encenado, ou visto de tal forma por Marius Petipa. Isso porque, no cenário de seus criadores a personagem Odile não é um cisne negro e sim uma feiticeira, a filha malvada de Von Rothbart.
Agora uma das curiosidades que eu mais gostei de saber, e espero que vocês gostem também.
Na produção de 1895 Pierina Legnani não usava um costume de cor preta, mas um traje azul royal com desenhos multicoloridos descritos como impressionantes e dos quais nenhum remetia a cisnes ou plumagem.
A chamada "tradição do Cisne Negro" começou mais ou menos por acidente depois de uma produção de 1941 de Lago que foi encenada no Met Opera House com os Ballets Russes de Monte Carlo por Alexandra Feodorova e Fokine, com Tamara Toumanova como Odette/ Odile.
Na época, a cena mais conhecida do ballet no Ocidente era a segunda cena, então, na tentativa de ajudar o público a distinguir Odile da tão famosa Odette, Feodorova fez com que Toumanova usasse um figurino em preto no 2º ato como Odile. E assim que quase por acidente, Odile começou a ser chamada como "o Cisne Negro".
Porém Toumanova não foi a primeira bailarina a usar um traje de cor preta para o papel de Odile uma registro de 1901 diz que: "(...) Matilda Kschessinska usava "um vestido preto elegante" para o papel (...)". Mas a história considera que foi na performance a produção de 1941 que colocou a tradição em movimento.
Odile tornou-se "o Cisne Negro" e tal referência rapidamente se espalhou por toda parte, incluindo na Rússia. E assim foi até chegar ao que conhecemos hoje.
É importante saber também que Odile não realizava nenhuma coreografia com movimentos inspirados nos cisnes. Isso porque, diferentemente das produções modernas, ela não está imitando os movimentos de Odette, mas sim usando sua magia para enganar e encantar Siegfried enquanto recebe algumas dicas de seu pai.
O coreografo Alexei Ratmansky em sua produção para o La Scala Ballet reconstruiu essas primeiras versões, com toda coreografia a partir do que teria sido idealizado por Marius Petipa. As duas últimas imagens deste post são dessa produção.
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*interpolação musical: pode servir como fator surpresa devido ao interrompimento parcial do clichê harmônico, ou pode servir de opção para atrasar a resolução. Tudo depende da melodia associada e da ideia do arranjador.
*mimo = pantomima, mímica.
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